Pedro quis resistir. Achou indigno. Não queria que Jesus se rebaixasse daquele jeito. Mas Jesus insiste: “Se eu não te lavar os pés, não terás parte comigo” (Jo 13,8). Parece radical, e é. O Evangelho não é negociável. Ou nos deixamos amar, ou ficamos de fora. A água derramada nos pés sujos dos discípulos não foi um gesto teatral. Mas foi escandaloso. O Senhor, que tudo sabe, ajoelha-se diante de homens imperfeitos, inclusive de Judas, que já tinha negociado o preço da traição.
Crédito: rudall30 / GettyImages
O gesto é um grito silencioso:
O amor verdadeiro serve até quem não merece, até quem revida com ódio e traição. É fácil amar quem nos ama. Difícil é permanecer com o coração aberto quando somos feridos. Mas é exatamente aí que o seguimento de Cristo se mostra autêntico. Quando lavamos os pés sujos de quem nos rejeita. Quando colocamos a toalha na cintura e nos rebaixamos diante de quem nos machuca. Quando escolhemos retribuir com o bem, o mal que recebemos.
“Se não te lavar os pés…” é mais do que uma frase sobre humildade
É um chamado à conversão de quem ainda acredita que amar é sentir. Amar é decidir. E o serviço é fiel, silencioso e constante, é a forma mais concreta de se amar.
Deixarmo-nos lavar por Jesus é permitir que Ele limpe também nossa lógica de poder, nossa mania de disputar posições, nosso desejo secreto de sermos reconhecidos (ou servidos). E permitir que Ele nos lave é, inevitavelmente, deixar que Ele nos ensine a lavar/amar. Quem ama serve. Quem serve dignifica até o indigno. E quem veio dignificar aqueles que não tinham mais dignidade nenhuma, senão Jesus?
O serviço sincero é também um convite à conversão
Mas talvez seja o convite mais difícil de se ouvir e de se fazer… É tão mais fácil acusar, colocar o dedo na cara, apontar as falhas, não é?
Unido em oração, para que deixemos o orgulho de lado e aprendamos a amar como Cristo: ajoelhados, mãos estendidas, toalha na cintura, sem esperar retorno.
Flavio Crepaldi
instagram @flaviocrepaldi
