O divino luthier

O divino luthier é e sempre será nosso Deus. “O que é a argila em suas mãos, assim sois vós nas minhas, casa de Israel.” Jer 18,5-6. 

Abraçado ao meu velho companheiro de madeira lustrada e cordas de aço, que sempre escuta meus desabafos em forma de oração e canção, me ocorreu uma bela lembrança: o instrumento que empunhamos para evangelizar é conteúdo de pregação, se partirmos do princípio de como ele é feito e por quem ele é feito.

O luthier divino

Crédito: syolacan by GettyImages

Quando vamos a um show, uma apresentação de uma orquestra sinfônica ou até mesmo quando pegamos o violão para tocar, nem sempre imaginamos o carinho no qual o instrumento pode ter sido feito.

Por duas vezes, tive a chance de conhecer e conversar com duas pessoas que fabricavam instrumentos de corda, a quem chamamos de “luthier”. Não falo daquela linha de produção onde vários instrumentos são feitos em um curto espaço de tempo. Falo daquele homem que coloca o coração no que faz e usa os dons de artesão, herdados dos artistas dos inícios dos tempos musicais. Um deles eu descobri em minha cidade natal.

O que fazia dele tão bom naquilo que se propunha fazer? 

A fama do homem com uns 50 anos era a de ser o melhor de Campos dos Goytacazes (RJ). Ao entrar em sua casa, fiquei me perguntando o que fazia dele, tão bom naquilo que se propunha a fazer. No quintal, havia um monte de madeira, que parecia estar ali há muito tempo. E logo as perguntas começaram a ser respondidas. Ele me explicou que esse era o primeiro passo para se fabricar um bom instrumento.

Logo aprendi que é sempre necessário que a madeira fique exposta ao tempo, na chuva e no sol intenso, no sereno e no vento, no verão, no outono, no inverno e na primavera, para que ela sofra todas as transformações. Rachar o que precisa rachado, empenar o que precisa empenado, ressecar o que precisa ser ressecado. Só depois de viver as quatro estações do ano, ela está pronta para ser transformada.

O carinho com que o “luthier” se debruçava na peça de madeira, cortando as rachaduras, aplainando o que estava torto, lustrando e lubrificando o que estava seco. Os maiores tesouros deste homem eram suas ferramentas. Com elas, ele transformava a madeira bruta em arte admirável e moldava o instrumento. E em meio século de vida, apontava como suas maiores realizações lindos violinos, violões, guitarras, baixos, cavaquinhos.

O divino luthier

Cada um com sua história de criação ligada ao coração do artesão. Cada um com sua característica sonora que proporcionariam satisfação às mãos de quem os tocariam e aos ouvidos de quem se emocionaria com os acordes. E no fim dessa história me vem uma certeza. É assim, como instrumentos em confecção nas mãos do Senhor, que somos modelados na via de santidade que termina nos acordes celestes!

E termino te convidando a ser madeira bruta nas mãos do nosso “luthier divino”. Permita que Ele arranque as rachaduras de seu coração, deixe reto e plano o caminho que era torto e encharque com a água viva do Espírito Santo, todos os cantos do seu ser, que as decepções da vida ressecaram.

E que ao ser moldado, você se transforme no mais belo instrumento capaz de alcançar os corações com o som que o Senhor executa em você para tocar uma canção sempre nova.

Foi esta, então, a linguagem do Se­nhor: “casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz esse oleiro? – oráculo do Se­nhor. O que é a argila em suas mãos, assim sois vós nas minhas, casa de Israel.” Jer 18,5-6

Deixe-se ser moldado pelo Senhor: O divino luthier, Ele está a sua espera.

Wallace Andrade
Comunidade Canção Nova

Wallace Andrade