Quando lemos a frase ‘faça o dever cotidiano’, muitas vezes associamos a palavra dever a algo chato, moroso, repetitivo, sem graça e que até mesmo vamos deixando de lado, trocando por aquilo que nos é mais prazeroso ou fácil. Podemos pensar no dever cotidiano a partir da óptica de São Josemaria Escrivá quando ele traz essa passagem: “Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes» (Caminho, n. 815).”
Muitas coisas são feitas porque se fazem necessárias, são parte do dever cotidiano, e é importante que estejamos nelas, de forma inteira, completa, pois se não for assim, iniciamos um processo que dissocia ação de quem eu sou, é como se o corpo e a alma desejasse estar em outro canto, e, então, começam nossas crises existenciais, falta de sentido e tantas outras realidades emocionais.
Nem sempre faremos o que é agradável, isso é fato. Nem todo mundo ama exercício físico, mas precisa movimentar seu corpo para evitar doenças e manter-se saudável física e mentalmente. Cuidados com a casa, ir ao supermercado, fazer tarefas com filhos, cozinhar. A lista pode ser imensa, se quisermos, mas a realidade é que se mesclam sempre os deveres cotidianos que chamam nossa responsabilidade e fazem que honremos as realidades para as quais fomos chamados. Isso é nosso dever cotidiano. Não importa qual é nossa missão, nossa vocação, nosso chamado, nosso estado de vida. Seja um padre, uma mãe, um pai, um um amigo, um trabalhador de qualquer área, todos nós temos deveres que englobamos em nossa vida.
O dever cotidiano
Mas outra importante reflexão se dá a respeito do nosso dever cotidiano: quanto amor e dedicação colocamos naquilo que fazemos e quanto empenhados estamos naquilo, não só pela tarefa, mas também pelas pessoas para as quais tal gesto está dedicado, que não envolve o peso da tarefa, mas a beleza contida no gesto, expressão do amor de Deus através de nós. “Tudo o que fazeis, fazei-o na caridade.” (I Cor 16,14)
Um cuidado se faz importante: não se engane deixando de fazer as coisas necessárias ao se ocupar com coisas acessórias. Explico: por vezes, enchemo-nos de atividades profissionais e evitamos nossa família porque nossa melhor desculpa para lidar com as realidades familiares é dizer que estamos cheios de trabalho. O comodismo é outro tipo de desculpa que usamos para nos mantermos na mesma condição, reclamando e dizendo que aquilo é ruim ou complicado. Enquanto isso, o tempo passa, as coisas pioram e nada muda.
Cuidado para não enterrar o dever cotidiano que cabe somente a você: o que se chama de procrastinação, muitas vezes tem que ser encarado para além da nossa vontade, pois ela nem sempre existe. Devemos fazer pela necessidade e pelo senso moral de conclusão, e não para que seja feito quando der ou quando nada menos prazeroso exista antes.
Faço-lhe um convite: visite mentalmente seus deveres cotidianos e perceba seu compromisso com eles. Escreva-os e comprometa-se com eles, com você e com as pessoas envolvidas nesse caminho.
Um abraço fraterno e uma excelente semana!
Elaine Ribeiro
Instagram: @elaineribeiro_psicologa