Poucas realidades estão tão esquecidas quanto o silêncio. Vivemos em meio a sons constantes, pressas infindáveis e estímulos constantes que raramente nos deixam espaço interior. No entanto, é justamente nesse espaço desocupado de ruídos — externos e internos — que a Graça pode crescer.

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Não se trata de um silêncio vazio, mas daquele que se permite escutar
Um silêncio habitado, um solo fértil onde a semente da Graça encontra lugar para lançar raízes. É nesse terreno discreto que a alma começa a perceber que a vida espiritual não depende de grandes emoções, mas de uma presença constante, às vezes imperceptível, que transforma tudo.
A Graça que cresce no silêncio não é impetuosa, mas firme, profunda. Cresce sem fazer barulho, mas sustenta a alma mesmo nos dias de aridez. Requer Fé para continuar mesmo sem sentir. Exige Esperança para confiar que algo está acontecendo, mesmo quando parece que nada muda. E floresce em Caridade, porque somente o amor gratuito resiste ao tempo e às estações da alma.
Santo Inácio de Loyola, mestre do discernimento espiritual, ensinava que devemos estar atentos aos movimentos da alma, pois nem sempre o que brilha vem de Deus e nem sempre o que é obscuro é sinal de ausência. Às vezes, é no recolhimento interior, nas “moções suaves e duradouras”, que Deus mais claramente se comunica.
Por isso cultivar o silêncio é abrir espaço para essa escuta
É escolher o lugar onde a Graça poderá crescer. É aceitar que o crescimento espiritual raramente acontece sob aplausos ou sob holofotes, mas no escondimento — como a raiz que se aprofunda antes de florescer.
A alma em estado de Graça que permanece fiel no silêncio não está sozinha. Está sendo visitada por Deus de modo sutil, porém eficaz. E, ao fim, descobrirá que a Graça amadureceu justamente ali, onde o mundo nada via.
Flavio Crepaldi
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