Eu, templo de Deus. Já os gregos antigos conheciam o aforismo “conhece-te a ti mesmo” e o usavam como regra para todo aquele que procurava saber o futuro.
Quer saber o que virá? Procure conhecer-se, afinal, certamente grande parte do seu futuro será consequência dos seus próprios atos e escolhas.
Tal mensagem não é contrária à filosofia e teologia cristãs. Santo Agostinho, doutor da Graça e o primeiro a tratar profundamente da metafísica da interioridade, já dizia: Noverim Te, noverim me! Que quer dizer: que eu Te conheça [ó Deus] e que eu me conheça.
Eu, templo de Deus
Duas faces da mesma moeda: não se conhece a Deus sem se aprofundar no conhecimento de si mesmo. Outra doutora, aquela que estabeleceu a plena teologia do “eu, templo de Deus” sentenciou: “Imaginar que havemos de entrar no céu e não entrar em nós, conhecendo-nos e considerando nossa miséria, é desatino!” Santa Teresa D’Ávila.
O encontro com Deus
Ou seja, o encontro com Deus passa e reivindica o encontro com nós mesmos. A Misericórdia só pode ser aplicada sobre aquele que apresenta as suas misérias. E como apresentá-las se você não as conhece, ou se as esconde, ou procura viver a versão “personagem” de si mesmo: um cristão em busca da perfeição que declara que seu principal “defeito” é ser obstinado pela santidade?
Que fique claro: ninguém está pedindo que você confesse seus pecados e misérias publicamente. Mas, perante Deus, talvez seja somente porque Pedro conseguiu dizer: “Afasta-te de mim, Senhor! Pois sou um pecador!” (Lc 5,8). É que, muito tempo depois, Jesus pode dizer-lhe: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).
Mas lembre-se: nem tudo foram flores neste percurso… Entre uma coisa e outra, Pedro foi convidado a ver a glória de Deus (Mt 17,4), foi repreendido (Mt 16,23) e ainda negou Jesus três vezes (Lc 22,56-60).
Aquele que conheceu sua própria insignificância foi o que conseguiu se aproximar do coração de Deus. Como os patriarcas do Antigo Testamento, somente após começar cavando poços (Gen 26) no seu interior, conseguirão perceber a escada que liga aos céus e que os anjos sobem e descem (Gn 28,12).
Que a Quaresma, através dos santos exercícios, nos leve a essa experiência profunda de conversão.
Seu irmão,
Flavio Crepaldi