Você já observou uma cidade vista de cima? De longe, os telhados variam, os estilos se diversificam, as cores contrastam. Mas há algo invisível que todas as casas devem possuir: um bom alicerce.

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Assim também acontece com a espiritualidade cristã
À primeira vista, vemos carmelitas em seus mosteiros silenciosos, jesuítas educando e evangelizando, dominicanos pregando e ensinando, franciscanos vivendo a pobreza, novas comunidades com suas expressões vibrantes de Fé. São rostos distintos de uma mesma santidade. Formas diversas de viver o único Evangelho.
Toda espiritualidade autêntica tem uma estrutura profunda que a sustenta: o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
É o próprio Cristo quem serve de fundamento para a edificação da vida espiritual: “Ninguém pode lançar outro fundamento além daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,11). Antes de ser carmelita, franciscano ou qualquer outra coisa, é preciso ser cristão. Mais ainda: é preciso ser alguém que vive o Evangelho na prática.
Jesus não chamou primeiro uma Ordem, mas pessoas. Homens e mulheres concretos. E a santidade que Ele propõe não depende de carismas específicos, mas da configuração total da vida ao Seu coração.
A beleza da Igreja está, justamente, na diversidade de formas pelas quais o mesmo Espírito conduz os filhos de Deus. Não há espiritualidade superior às outras, como se houvesse categorias de santidade. Todas as autênticas tradições espirituais da Igreja são modos distintos de seguir o mesmo Cristo.
Imagine a espiritualidade como um edifício
O fundamento é único: o Evangelho vivido com radicalidade. Mas os andares, os ambientes, os detalhes — isso varia conforme o carisma, a vocação, a história de cada alma. O importante é que tudo esteja firmemente edificado sobre Cristo, e não sobre preferências pessoais, modismos ou conveniências.
Um dos maiores obstáculos ao crescimento espiritual é querer ser o que não se é. Deus não deseja cópias, mas santos únicos. O Espírito sopra onde quer — e quando conduz uma alma à escola do Carmelo, não o faz porque o beneditino é inferior, mas porque ali está o caminho mais adequado para aquela alma em particular.
Por isso, quem busca a santidade deve estar mais atento à essência comum de todas as espiritualidades cristãs do que às suas vestes exteriores. É no desapego, na oração, na caridade, no seguimento da cruz, na obediência ao Evangelho — e não nas práticas externas — que a santidade é verdadeiramente medida.
Pergunte-se: minha espiritualidade está edificada sobre Cristo? Ou sobre sentimentos, comparações, tribos e desejos de identificação exterior?
O verdadeiro caminho de santidade é aquele que, com humildade, retorna todos os dias à base: a oração, o Evangelho, a comunhão com a Igreja, o abandono à vontade de Deus. As estruturas variam, mas a Rocha é a mesma.
Cristo é a pedra angular rejeitada pelos construtores, mas escolhida por Deus (cf. Mt 21,42). Que nossa casa espiritual, seja qual for seu estilo, esteja solidamente assentada sobre Ele.
Se a base for firme, a edificação suportará ventos e tempestades, e será santa.
Flavio Crepaldi
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