Quando penso no deserto, remeto-me a uma frase que diz: “O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar” (Saint-Exupéry). Uma metáfora para comparar nossos tempos de silêncio, de aridez espiritual, de recolhimento.
Crédito: flavijus by GettyImages
É a esperança por esse poço que alimenta as muitas caminhadas que fazemos e que, muitas vezes, até no campo espiritual, se escondem.
As grandes e valiosas descobertas exigem esforço e dedicação. A experiência do deserto, embora reserve esse inesperado e desconhecido, é sim, muitas vezes, fecunda. Mesmo que dolorosa, somos confrontados conosco mesmos, com nossas misérias, com aquele “bicho indomado” escondido em nosso interior.
O que torna belo o deserto
Muitas vezes, sem perceber, ao lidar com esse deserto, vamos machucando quem está ao nosso redor e nos machucando ainda mais, com escolhas estranhas, até mesmo incompatíveis com aquilo que temos como valores inegociáveis, mas que, ali, se quebram.
O deserto nos faz um convite: será que eu preciso deixar de lado situações, escolhas, coisas, relacionamentos que efetivamente têm contribuído para uma falta de sentido em minha vida? Será que eu não preciso de um tempo de revisão para dar um novo direcionamento à minha vida?
Saulo de Tarso, ou seja, São Paulo, passou pelo deserto e lá, no caminho de Damasco, teve sua conversão e grandes experiências físicas e espirituais em sua vida. São Paulo e outros santos viveram seus desertos e suas grandes experiências espirituais.
O deserto esconde um poço em algum lugar
Por vezes, a vida é assim: silencia para falar, fala e depois silencia. É esse despojamento e essa entrega para as quais o deserto nos convida. Ele é transitório, passageiro, tempo necessário e tempo favorável. Portanto, não o preencha com queixas e apenas reclamações. Silencie os barulhos que o impedem de ver melhor, de ouvir melhor.
Procure também por esse deserto, procure pelo caminho que favorece uma vida nova. Reforço, mais uma vez, como no início da reflexão de hoje: “O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar”.
“No deserto, tu mesmo viste como o Senhor, teu Deus, te levou por todo caminho por onde andaste, como um homem costuma levar seu filho, até que chegásseis a esse lugar”. (Deut 1, 31)
Que o deserto lhe propicie grandes e favoráveis descobertas.
Um abraço fraterno,
Elaine Ribeiro
