Se você pudesse escolher um lugar para ouvir Deus, qual seria? Pois bem, seja bem-vindo ao deserto!
O deserto é um lugar onde a solidão possibilita o encontro consigo mesmo, e o silêncio faz descobrir a simplicidade da vida. Perdem-se os encantos das aparências, a nudez permite centrar-se no essencial e a aridez enfoca o invisível para os olhos. O deserto é o lugar de purificação. Entretanto, o sofrimento, a solidão e a provação não purificam em si mesmo. Depende da atitude que se adote frente a elas.
Caminhando pela história da salvação, o povo de Israel, conduzido por Moisés, foi libertado do jugo do faraó e levado ao deserto. Neste lugar de provação, o povo é forjado interiormente. Deus se serviu desse forno de purificação para educar e formar os recentes libertados (cf. Dt 8,2). Na solidão, que propicia a intimidade, Deus fala ao coração de seu povo e o seduz para que ste sirva-O com total fidelidade, “levar-te-ei ao deserto e falarei ao coração” (Os 2,16).
Imaginemos que estamos num deserto. A primeira sensação seria a de nos encontrarmos envolvidos por um grande silêncio: sem barulho, a não ser o vento e a nossa respiração. Eis que o deserto é o lugar do desapego do barulho que nos rodeia. É ausência de palavras para dar lugar a outra Palavra, a Palavra de Deus, que, como uma brisa suave, acaricia o nosso coração (cf. 1 Rs 19, 12).
É no Deserto que Deus fala aos corações
No deserto, ouve-se a Palavra de Deus, que é como um som suave. No deserto, encontra-se a intimidade com Deus, o amor do Senhor. Jesus gostava de se retirar todos os dias para lugares desertos e entregava-se à oração (cf. Lc 5,16). Ele nos ensinou como procurar o Pai, que nos fala no silêncio. E não é fácil fazer silêncio no coração, pois procuramos sempre conversar um pouco, estar com os outros (cf. Papa Francisco, Audiência Geral, 26 de fevereiro de 2020).
No dia de hoje, a Igreja faz memória a um grande homem que escolheu o deserto como sua casa: Santo Antão. Cercado de solidão e de grandes combates espirituais, Santo Antão foi coroado com a glória, pôde encontrar-se a si mesmo e, principalmente, o Senhor pelo qual viveu e lutou. Disse uma vez esse homem santo: “Quem se assenta no deserto e se recolhe afasta-se de três guerras: as dos ouvidos, da fala e da visão. E tem diante de si apenas uma, a do coração”.
Seu irmão,
Thiago Teodoro