Você sente saudades?

Tem dias que a gente se pega sentindo saudades de tudo, da forma como acordávamos, do nosso jeito de se espreguiçar antes de sair da cama, aquela famosa frase: “Ah, mãe, só mais cinco minutinhos”… A luz do sol que invadia o nosso quarto logo cedo, o cheiro do café da manhã que nos envolvia, mas, muitas vezes, era nossa primeira renúncia, por causa dos cinco minutinhos a mais na cama.

Créditos: Lady-Photo by Getty Images

Saudades de uma vida sem excessos

Saudades das amizades, do poder ser você mesmo, de saber que era acolhido como era e não precisava usar máscaras e se reinventar a todo instante para ser aceito aqui ou ali.

Saudades da vida descomplicada que levávamos, cuja única e maior preocupação era vivê-la e senti-la leve como a brisa que passa pelo rosto mas nunca se prende a nós.

Saudades de uma vida sem excessos, em que a maior exigência era ser aquilo que conseguíamos carregar, das brincadeiras, fantasias, heróis, cuja missão era salvar o mundo.

Saudades dos dramas, dos amigos que se mudaram e a gente sofreu, pois, imaginávamos que se ele(a) fosse embora a nossa vida estaria arruinada e nunca conseguiríamos ser amigo de alguém novamente.

Saudades das fugas de casa que chegavam no máximo até o quarteirão seguinte, onde sentávamos e ali ficávamos até dar fome e voltarmos para casa.

Hoje, essa saudade resolveu me visitar, talvez, como uma forma de me chamar a atenção para aquilo que é essencial e que tenho deixado de viver há algum tempo. Para mim a saudade é isto: um grito na alma para que se desperte aquilo que é originalidade em mim. Percebo que aquele desejo de salvar o mundo foi se diminuindo dentro de mim e, provavelmente, hoje, o único mundo que eu queira salvar seja o meu. 

Ah, saudade, como sou grato a você, pois, sussurrando ao meu coração, me faz tirar os olhos daquilo que é externo e me lança para dentro, onde tudo o que é genuíno em mim está aqui albergado.

É verdade que há muito tempo tenho vivido na complexidade das coisas e isso tem sufocado a pessoa simples que costumava ser, tem me tirado o sorriso do olhar, pois tenho me preocupado com muitas coisas e menos com o essencial. Mas bendita saudade que, como agente de restituição, me devolve a esperança de crer que, dentro de mim, ainda existe muito daquele menino cheio de sonhos; e que é possível resgatar tudo isso e canalizar de uma forma sadia e madura para tudo o que vivo hoje!

A saudade mantém a gente vivo. E penso que uma de suas especialidades é a de nos fazer crer novamente no mundo, no outro e, sobretudo, em nós mesmos.

Que essa saudade redentora também seja para você a salvação, sobretudo, de você mesmo.

 

Deus abençoe você!

Marcelo Moraes

Marcelo de Moraes